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Monções

A democracia, para quem se dispõe a observá-la sem comprometimentos passionais, se demonstrará sólida apesar de sintomas ou nuances de fragilidade.

É da sua natureza a alternância não apenas dos agentes ocupantes de cargos diretivos e decisivos em maior ou menor grau, tanto quanto momentâneos e transitórios os protagonistas das grandes questões nacionais, por exemplo.

A observação do que proponho hoje como detecção requer um pouquinho mais de trabalho, nada muito extenuante, mas de apuro e concentração em detalhes bem perceptíveis mesmo a olho nu.

Claro, bem mais fácil se atentarmos apenas ao período da pós-redemocratização, que, ao menos para mim, se inaugura, ou em 1982, ou, 1985. Como queiram.

E, trago como paradigma alterado, na minha perspectiva de contemplação dos movimentos sazonais democráticos, o realce que o Parlamento Brasileiro detém agora, em vez primeira, como nunca antes eu havia visto, ou, percebido.

As duas casas legislativas nacionais, nesta página republicana, fazem inclusive questão de demonstrar que, embora o regime constitucional presidencialista, são capazes de ter em suas mãos, seu colo, matérias tidas por alicerçais. O fazem em exercício de flagrante independência, como, aliás, deve ser à luz da Carta Maior.

Só que desta vez é de verdade, de fato.

Atentem para o apelidado "Decreto das Armas", basilar proposta de campanha do ex-deputado federal consagrado pelas urnas e, portanto, empossado presidente da República, tão popular quanto impopular, cujo destino hoje, terça-feira, quando escrevo para vós, têm naquela casa a decisão sobre seu destino.

Se trata de posição mais que cara, quase afetiva ao maior mandatário da nação mas que, ainda assim, não goza de tranquilidade de passagem como vista em outros tempos.

Se analisarmos o comportamento do Poder Legislativo durante os mandatos dos quatro últimos presidentes, então, nos depararemos com a evolução de um estado de submissão quase que completa (sempre resistida por uma minúscula minoria opositora) até o ponto de hoje, quando sequer o Governo está munido de um grande líder seu, dentro das casas legislativas, capaz de costurar os interesses.

Vamos além: é o Congresso o grande temido, que fez governos recuarem em suas tentativas de reforma da Previdência Social. Mais: é no Legislativo que se encontra, praticamente, a iniciativa e a defesa da pretendida reforma em curso, sob os olhos contemplativos do Palácio do Planalto.

Definitivamente, o poder sazonal que a democracia concede é nômade. E, hoje, ele não está sob a toga de alguns, tampouco sob a farda de outros. Não tanto, pelo menos. Democracia né...

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